Ou uma chibata? Você escolhe
Estou cada vez mais convencida do prazer absurdo que sentimos nós, seres humanos, ao viver situações de extremo stress psicológico, que chega na maior parte das vezes a uma busca quase sado-masoquista.
Era 9h30 da manhã quando a chefe de redação se aproximou da nossa mesa para dividir os temas do dia.— Você Carol, vai cobrir um sequestro simulado. E me estendeu a mão com uma folha com dados sobre o tema.Senti minha testa franzir o máximo possível. — Quê?Comecei a investigar de que raio se tratava isso. E descobri, para a minha surpresa, que um grupo de jovens de Barcelona havia organizado uma pequena empresa que oferecia ¨jogos e experiências psicológicas¨.Uma das ofertas dizia assim:
¨Alguma vez você já teve curiosidade de saber como é ser sequestrado?¨
Entrei em contato com o porta-voz do grupo e marcamos um encontro. O caso é que muitas pessoas procuravam o serviço destes jovens com o pedido de viver uma simulação, de preferência da forma mais realista possível, de um sequestro.
Depois dos devidos acordos, com papelada assinada por ambos e tudo, o grupo aparecia na casa, no trabalho ou nos horários livres do cliente e, um belo dia, lhe sequestravam. Pelo pacote completo, incluindo DVD com os piores momentos documentados (como as horas passadas em um cativeiro!) o jogo custa de 300 á 600 euros.
Uma das clientes, Montserrat, contou quando ela e uma amiga viram o anúncio, ¨queriamos saber como é que este grupo faria para simular uma situação dessas! Foi incrível e realmente senti muito medo... Algumas pessoas escolhem pular de para quedas e outras viver um sequestro. Por que não?¨, acrescentou.
O fato é que com tudo que passa no nosso país, esse jogo não podia deixar de me parecer uma grande brincadeira de mau gosto.
Enquanto Íngrid Betancourt é finalmente liberada pelas FARC, enquanto milhares de brasileiros sofrem o pesadelo de estar em poder de sequestradores, parece existir gente pagando para relembrar essa absurda maldade que um ser humano é capaz de fazer a outro.
Será que não existem coisas suficientemente ruins no mundo para que as pessoas deixem de torturar-se e passem a aproveitar o pouco tempo livre que lhes sobra em algo que lhes traga um prazer minimamente saudável? Com certeza os sado-masoquistas não assumidos estão felizes da possibilidade de aumentar a jornada laboral de 48 á 60 horas semanais. Ou talvez assim lhes sobre menos tempo para se chibatar durante os poucos momentos que estarão fora do trabalho.
O resultado da reportagem emitida foi como uma grande piada. O tom irônico (porque só através dele se podia falar sobre este tema) reinou na telinha espanhola, justo antes da noticia da morte de 41 pessoas por um ataque bomba no Afeganistão.
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Era uma vez um homem que queria comprar um par de sapatos, porque os seus já estavam velhos demais. Um dia se levantou tranquilamente e se dirigiu até sua loja de calçados preferida, e pediu ao vendedor:
— Este sapato que esta na vitrine. Número 42, por favor.
O vendedor vendo que o pé do cliente parecia maior que o número que o próprio havia pedido respondeu com ar solidário:
— Este sapato é para o senhor? Porque vejo que seu número é o 43 ou até 44. O 42 ficará pequeno, com certeza...
O homem, irritado com o comentário do vendedor, lhe lançou um olhar fulminante e disse:
— Sim, o sapato é para mim e meu número é 42, tenho certeza disso. Por favor, você poderia pegar um na cor bege?
O vendedor, que tinha anos de experiencia vendendo sapatos, sabia que o pé do cliente não caberia em um 42. Depois de tentar insistir, em vão, na busca do modelo um tamanho maior, se dirigiu cabisbaixo até o estoque e trouxe o que o cliente havia pedido.Quando este colocou os sapatos, com os dedos encolhidos e que lhe apertavam como duas caixas pequenas, o vendedor respirou com ar de triunfo.
— O senhor quer que eu busque um 43 agora?
— Não. Estão perfeitos. Vou leva-los.
Sem entender nada, o vendedor preparou a nota e o homem se foi, caminhando de forma desajeitada e um pouco manco pelo sapatos extremamente apertados. Caminhou até seu trabalho e de lá caminhou também até seus clientes, que por sorte estavam há apenas 10 minutos de seu escritório. A cada passo, o homem se encurvava mais e caminhava mais torcido e de uma forma mais incomoda.
No final do dia, quando abriu a porta de casa, o homem sorriu, sentou no sofá e, como parte de um ritual intimo, tirou calmamente os sapatos. Seu rosto se transformou. E com uma expressão de plenitude cósmica, esticou os dedos e o corpo pelo sofá. Como quem diz um pensamento em voz alta, o homem resmungou a sua esposa que entrava na sala naquele momento:
— Ai Sandra, se não fossem esses sapatos apertados que me ocuparam os pensamentos durante todo o dia, como poderia sentir agora essa sensação inexplicável de prazer?
A mulher assentiu com a cabeça.
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