A voz de Miriam Makeba invade o Palau da Musica Catalã
Ela lutou pelos direitos humanos e em contra ao avassalador regime do apartheid. Nos anos 60, ganhou popularidade com o documentário Come Back, Afrika , apresentado no Festival Internacional de Cinema de Veneza, que mostrava ao mundo a discriminação racial transformada em lei na África do Sul. Apelidada de ¨Mama Afrika¨ a cantora Miriam Makeba tornou-se um ícone da luta pela igualdade e da musica africana.
Não existe pessoa que não conheça seu estrondoso hit Pata Pata, marco de geração 60 e referencia para os criadores da MPB brasileira ( vejam no youtube, vale a pena!). Hoje, aos 75 anos, Miriam resolveu deixar o palco. Mas não antes de realizar um ultimo tour mundial, com uma majestosa parada em Barcelona, no Palau da Musica Catalã.
A escolha do local também não foi à toa. O palacete, situado no centro da cidade, foi reconhecido como uma das 10 maravilhas da Catalunha além de ser símbolo da arte modernista espanhola. Uma obra de vitrais de grande luz natural, de tirar o chapéu.
O que mais me impressionou na apresentação foram as interpretações de Makeba com ruídos feitos pela boca e nariz, como se saíssem instrumentos junto com sua voz. Eram respirações altas intercaladas de gritos ritmados que acompanhavam as músicas, e que renderam muitos aplausos.
E sobre ela não faltam histórias e atos memoráveis. Por causa de suas continuas reivindicações que repercutiram com grande força na Europa, a cantora sul-africana acabou sendo proibida pelo governo de voltar a seu país. Makeba só conseguiu permissão para regressar anos depois com o fim do apartheid em 1990, quando foi recebida pelo então presidente Nelson Mandela. Lembro-me quando fui à cidade Natal de Makeba, a bonita Joanesburgo. Meu pai, que foi piloto por vários anos, conseguia muitas vezes descontos extraordinários, que me levaram até lá em 97, anos depois do fim da luta racial. Tenho memórias de ver ainda nessa época homens brancos caminhando com cassetetes para proteger-se dos classificados pelo regime de não-brancos. Hoje penso se essa explicação, dada por um que nos acompanhava, realmente era verdadeira. De qualquer forma era obvio a presença de um ainda preconceito racial muito forte e de uma magoa vinda do povo negro, totalmente justificada.
¨Não nos esquecemos de onde viemos e da toda a nossa história¨, disse Makeba ao fim da apresentação. Quase junto com a frase saíram do publico muitos assovios e gritos de apoio. Sim, é verdade. Tudo que acontece, de bom e ruim, fica marcado de uma certa forma, como uma digital dentro de nós. Bom mesmo seria se pudéssemos selecionar o que fica ou não para sempre conosco.
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