“Aquilo lembrou-me Carlitos. Não foi a primeira vez, aliás, que um movimento súbito, um modo de andar, um instante genial de vida me lembra Carlitos”. A frase de Vinícius de Moraes reforça a ideia de que qualquer pessoa, com a mínima relação que seja com o cinema, tem sua própria visão sobre esse mítico personagem. Mas a exposição Chaplin e a sua Imagem, que inaugura no próximo dia 17 e permanece até 27 de novembro no Instituto Tomie Ohtake, promete revelar muito mais sobre um dos maiores nomes do cinema que o mundo já conheceu.
São mais de 200 fotografias de estúdio, além de trechos e montagens selecionados entre os 86 filmes em que Charlie Chaplin atuou durante sua carreira. Um deles, filmado pelo seu irmão Sydney no final dos anos 30, mostra um making of em cores produzido durante o longa-metragem O Grande Ditador. Outro ponto alto da mostra, e inédito ao público até agora, é o Álbum de Keystone, o primeiro estúdio em que Chaplin trabalhou, logo após fazer parte da trupe de comediantes de Fred Karno. As pranchas são compostas por fotogramas que remetem a história dos primeiros 35 curtas do artista, em 1914.
“Quando Chaplin entrar na Keystone para rodar ‘filmes de perseguição’, correrá mais rápido e mais longe que seus colegas do music-hall, pois, embora não fosse o único cineasta a descrever a fome, foi o único a conhecê-la”, conta François Truffaut. Abandonado pelo pai alcoólatra, Chaplin, com seus apenas nove anos, viu sua mãe ser levada para um asilo – Hannah Chaplin morreria louca anos depois – e passou a viver “ nas camadas inferiores da sociedade”, como descreveu em suas memórias. Mesmo com a desestruturação familiar, Chaplin não deixou de seguir os passos dos pais (também artistas) e seu talento nato para a escrita, direção e atuação.
É a partir desta primeira leva de filmes, e prestes a completar seus 25 anos, que Chaplin começa a desenvolver seu emblemático personagem Carlitos. A figura do vagabundo solitário e extremamente humano, hoje profundamente enraizada na memória coletiva, foi resultado de um processo de contínua transformação, que nasceu de um Carlitos cheio de truques e que aplicava golpes em seus comparsas. O personagem não seria diferente até a produção do longa O Garoto, 1921.
A curadoria de Sam Stourdzé também traz para a mostra obras de Fernand Léger. A partir de uma temática que conta com ícones urbanos, como maquinários e engrenagens - e que nos remetem as críticas feitas por Chaplin em Tempos Modernos – o pintor francês apropriou-se da imagem de Carlitos para a criação da serie de obras chamada Carlitos Cubista. Os personagens foram desenvolvidos para o filme Le Ballet Mécanique, dirigido e produzido pelo próprio Léger. E o arquivo da família Chaplin não para por aí. Afinal, são mais de 70 anos de carreira nas costas. O melhor é apertar o play e ver tudo com os próprios olhos.
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