Parte onde caminha a arte brasileira contemporânea? A pergunta , que volta e meia ecoa em galerias e museus, parece ter encontrado uma resposta na 32a edição do Panorama da Arte Brasileira do MAM de São Paulo: “Para o mundo. Observamos uma forte internacionalização da arte brasileira. Nossos artistas circulam agora pelo exterior, fazendo parte de outras paisagens”, analisa Cristiana Tejo, curadora do projeto em parceria com Cauê Alves.
Bienal, a mostra nasceu para ajudar na montagem de um acervo para o MAM e acabou se fortalecendo como evento dedicado à produção nacional emergente. Esta edição, que abriu suas portas no último dia 15, leva o nome Itinerários, Itinerâncias e busca refletir sobre o crescente deslocamento dos artistas e de suas obras pelo globo - seja em exposições, seja em residências, seja pela compra de suas peças por instituições estrangeiras – e o reflexo disso na criação. Para a seleção de 2011, a dupla de curadores realizou um levantamento de projetos de artistas que trouxeram esse olhar estrangeiro para seus trabalhos. Entre os 33 escolhidos estão também aqueles que usam sua obra para discutir o próprio processo criativo. Escolhi cinco deles para falar mais um pouquinho:
(MAM: Parque do Ibirapuera, portão 3. De 15 de outubro a 18 de dezembro)
As instalações e fotopesquisas de Jonathas Andrade fizeram parte da 29a Bienal de São Paulo e, atualmente, estão em exibição na Bienal de istambul. Ele já conquistou o prêmio Marcantonio vilaça, um dos mais importantes das artes nacionais, no início deste ano, e está entre os finalistas do Pipa. Suas obras lidam com a ideia de suspensão do tempo e discutem uma chamada “amnésia histórica”. No MAM, Andrade apresenta Ontem Hoje (acima), montagem de texto e foto em que ele substituiu as trágicas imagens do livro Hoy Ayer, Yesterday Today, publicado durante a ditadura chilena, pelo registro da aurora boreal do fotógrafo suíço Emil schultess.
Também indicado ao Pipa deste ano, Carlos Eduardo Costa, o Cadu, costuma carregar de simbolismo engrenagens mecânicas. Em Hino dos Vencedores (2008/2009), por exemplo, usou cartões perfurados com números da Mega-Sena como partitura para caixas de música, criando uma suave melodia. Em março de 2012, ele pretende pôr em prática sua tese de doutorado e viver durante nove meses em uma cabana isolada autossustentável na região serrana do Rio. “A questão é trabalhar a solidão como atitude poética”, diz. A obra Partitura (acima) aborda o tema do deslocamento através de trens elétricos que, conforme se movimentam, se chocam contra garrafas de vidro criando sons diferentes.
Lourival Cuquinha costuma abordar em suas obras temas políticos pelo viés da provocação. Polêmico, a primeira obra que sugeriu à Panorama foi vetada: ArtTraffic, já exposta fora do Brasil, é um registro da viagem do pernambucano por diferentes fronteiras com um colar enfeitado com haxixe. “Em três anos, fui detido uma única vez, entre a Suíça e a França”, conta. O substituto foi o Jack Pound Financial Art Project (2009). inspirado por um artigo que dizia que os ingleses não notariam se mil libras sumissem de suas contas, Cuquinha arrumou metade do dinheiro com “investidores” e a outra metade reuniu trabalhando em Londres. Transformou tudo em notas de 5 e 10 libras e, com elas, fez uma bandeira da inglaterra. Depois, a obra foi leiloada, durante a Frieze art Fair de Londres – rendeu 17 vezes seu valor inicial.
Esta é a segunda vez em 2011 que Nicolás Robbio, argentino radicado no Brasil (desde 2002) apresenta suas obras no MAM – a primeira foi na coletiva Um Outro Lugar, em 2010. Aliás, melhor seria defini-lo como um brasileiro com sotaque argentino, como ele mesmo gosta de dizer. Seu trabalho, constituído sobretudo por desenhos, costuma discutir o tempo entre ação e a reação, quase sempre tocando temas políticos. Durante a 28ª Bienal de São Paulo, por exemplo, Robbio publicou desenhos no jornal diário da mostra. Alguns foram censurados por criticar a curadoria e a crise da fundação. Para a Panorama, ele apresenta uma série desenvolvida nos últimos dez anos. Em envelopes, símbolo do fluxo de informações, ele inseriu elementos gráficos que só podem ser vistos contra a luz. “Esses desenhos são parte do processo da minha decisão de vir para o Brasil”, explica ele, que por muito tempo trocou correspondências com uma brasileira.
A tinta a óleo, pouco usada pelos novos nomes da arte contemporânea, é protagonista nas obras de Rodrigo Bivar. Usando fotografias tiradas ao redor do mundo como referência, o brasiliense pinta seus personagens em situações usuais do cotidiano. “Japão ou São Paulo, não importa onde os registros foram feitos, mas sim sua interpretação na tela”, ele diz. Bivar, de 30 anos, teve sua primeira exposição solo em 2009, na galeria Milan, onde apresentou obras que retratavam crianças fantasiadas, em uma brincadeira entre realidade e imaginação. No ano passado, foi considerado uma das grandes revelações da Paralela (mostra off Bienal de São Paulo) com a obra Duas Laranjas. Formado pela FAAP em 2005, o artista começou a ganhar notoriedade depois de uma série de retratos pintados em ângulos incomuns a partir de fotografias convencionais. Três de suas mais recentes pinturas farão parte da mostra do MAM, caso de Capa Preta (acima).
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