" São Paulo é a cidade. O turismo do futuro no Brasil está aqui. Lembrem-se de Nova York e de Paris. Nenhuma obra divina notável; apenas uma mãozinha de Deus. Um rio que passa no centro, uma ilha separada por um canal. De resto é uma obra humana mesmo.Faz pouco menos de 200 anos, e a antiga Paris tanto ou menos atrativos do que qualquer outra metrópole européia. Para ser franco , talvez Lisboa recebesse mais visitantes do que Paris. A cidade luz ainda não era iluminada com seus belos museus. A torre Eiffel não existia. Tão pouco a Champs-Elysées. Do outro lado do Atlântico, no início do século XIX, Nova York era uma grande e caótica cidade portuária. A Big Apple não tinha seus shows. Não havia o teatro Broadway e a Times Square. Apenas uma cidade horizontal, com favelas abarrotadas, borbulhando de emigrantes escravizados pela chibata de soldos miseráveis. Pó aqui, do lado de biaxo do globo, nosso começo também não era lá grande coisa. Nos primeiros dois séculos de Brasil, éramos o recôncavo da Colônia. Uma vila pobre e abandonada, esquecida pela metrópole. Pensar, então, em São Paulo como capital econômica da América do Sul, isso sim é que era insano. A cidade nada mais era que um grande descampado rodeado por pequenas lavouras de subsistência : uma clareira na mata Atlântica esperando pelos milagres da cana, do café e da indústria. O mais otimista dos bandeirantes jamais imaginaria uma São Paulo capital populacional, política e financeira de todo o hemisfério Sul. O que esperar do amanhã? São Paulo capital de qualquer coisa. Do turismo brasileiro? Será? Desta vez, nada de milagres. Faz dois séculos, um visionário aristocrata, metido a “chef urbanístico”, criou uma receita. Não é tão complicada assim. Como qualquer outra, requer paciência, atenção e disciplina. Primeiro, coloca em uma panela funda bastante investimento em infraestrutura, com vias de circulação ordenadas de maneira lógica. Cozinha até adquirir forma sólida e resistente. Enquanto isso, em uma frigideira aderente, invista em limpeza urbana, azeitando com segurança pública. Adicione algumas pitadas de incentivos a museus, shows, espetáculos, teatros e casas de ópera. Os ingredientes estão todos ai. Misture tudo e deixe agir em fogo brando. A cultura fará o resto. Afinal, Paris não possui as belezas naturais dos Alpes ou da Provence. Nem Nova York , os encantos naturais de Miami Beach. Em momentos quase idênticos, entre 1800 e 1900, ambas empregaram a tal receita, mantida em cozimento até os dias de hoje. O resultado: Paris e Nova York, os dois pólos turísticos do planeta na atualidade. Nossos agradecimentos ao “chef mestre” , Barão Hausmann. Na medida certa, ele soube utilizar o potencial parisiense, temperando-o soberbamente, aguçando ávidos turistas de todas as partes do mundo. "
Isaac Azar, 37, chef, proprietário do restaurante Paris 6 e colunista convidado desta edição da revista Folha de São Paulo
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