Mães zelosas
Pais corujas
Vejam como as águas
De repente ficam sujas
Não se iludam
Não me iludo
Tudo agora mesmo
Pode estar por um segundo
Água mole
Pedra dura
Tanto bate que não restará nem pensamento
Tempo Rei
Transformai
As velhas formas do viver...
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
A receita infalível de Isaac Azar
Dirigia meu carrinho num domingo chuvoso para beber uma taça de vinho com minha querida mamãe. O bistrô Paris 6 parecia estar lotado - afinal, os melhores lugares são sempre os mais disputados - e para não alargar o meu sofrimento em meio a mais uma dessas tempestades de verão, coloquei a cabeça para fora da janela e gritei ao manobrista: - Por favor, confirma o tempo de espera, porque se estiver muito grande não vou ficar! Enquanto o moço já se afastava repetindo os famosos 20 minutinhos de espera ouvi uma simpática voz que ecoou de dentro do bistrô: Mas quem faz questão que vocês fiquem agora sou eu!Era Isaac Azar, dono do bistrô. Vestido no melhor modelito Chef, ele nos pegou pela mão e nos levou a uma charmosa mesa no interior do local. Com um sorriso nos lábios, Isaac se sentou conosco e passamos um bom tempo entre histórias em comum e a cidade de São Paulo. O jornalismo não podia deixar e ocupar um lugar especial nesta história. Por isso, deixo a continuação nas mãos do próprio Isaac em um texto publicado na revista da Folha de São Paulo, em primeiro de fevereiro.
" São Paulo é a cidade. O turismo do futuro no Brasil está aqui. Lembrem-se de Nova York e de Paris. Nenhuma obra divina notável; apenas uma mãozinha de Deus. Um rio que passa no centro, uma ilha separada por um canal. De resto é uma obra humana mesmo.Faz pouco menos de 200 anos, e a antiga Paris tanto ou menos atrativos do que qualquer outra metrópole européia. Para ser franco , talvez Lisboa recebesse mais visitantes do que Paris. A cidade luz ainda não era iluminada com seus belos museus. A torre Eiffel não existia. Tão pouco a Champs-Elysées. Do outro lado do Atlântico, no início do século XIX, Nova York era uma grande e caótica cidade portuária. A Big Apple não tinha seus shows. Não havia o teatro Broadway e a Times Square. Apenas uma cidade horizontal, com favelas abarrotadas, borbulhando de emigrantes escravizados pela chibata de soldos miseráveis. Pó aqui, do lado de biaxo do globo, nosso começo também não era lá grande coisa. Nos primeiros dois séculos de Brasil, éramos o recôncavo da Colônia. Uma vila pobre e abandonada, esquecida pela metrópole. Pensar, então, em São Paulo como capital econômica da América do Sul, isso sim é que era insano. A cidade nada mais era que um grande descampado rodeado por pequenas lavouras de subsistência : uma clareira na mata Atlântica esperando pelos milagres da cana, do café e da indústria. O mais otimista dos bandeirantes jamais imaginaria uma São Paulo capital populacional, política e financeira de todo o hemisfério Sul. O que esperar do amanhã? São Paulo capital de qualquer coisa. Do turismo brasileiro? Será? Desta vez, nada de milagres. Faz dois séculos, um visionário aristocrata, metido a “chef urbanístico”, criou uma receita. Não é tão complicada assim. Como qualquer outra, requer paciência, atenção e disciplina. Primeiro, coloca em uma panela funda bastante investimento em infraestrutura, com vias de circulação ordenadas de maneira lógica. Cozinha até adquirir forma sólida e resistente. Enquanto isso, em uma frigideira aderente, invista em limpeza urbana, azeitando com segurança pública. Adicione algumas pitadas de incentivos a museus, shows, espetáculos, teatros e casas de ópera. Os ingredientes estão todos ai. Misture tudo e deixe agir em fogo brando. A cultura fará o resto. Afinal, Paris não possui as belezas naturais dos Alpes ou da Provence. Nem Nova York , os encantos naturais de Miami Beach. Em momentos quase idênticos, entre 1800 e 1900, ambas empregaram a tal receita, mantida em cozimento até os dias de hoje. O resultado: Paris e Nova York, os dois pólos turísticos do planeta na atualidade. Nossos agradecimentos ao “chef mestre” , Barão Hausmann. Na medida certa, ele soube utilizar o potencial parisiense, temperando-o soberbamente, aguçando ávidos turistas de todas as partes do mundo. "
" São Paulo é a cidade. O turismo do futuro no Brasil está aqui. Lembrem-se de Nova York e de Paris. Nenhuma obra divina notável; apenas uma mãozinha de Deus. Um rio que passa no centro, uma ilha separada por um canal. De resto é uma obra humana mesmo.Faz pouco menos de 200 anos, e a antiga Paris tanto ou menos atrativos do que qualquer outra metrópole européia. Para ser franco , talvez Lisboa recebesse mais visitantes do que Paris. A cidade luz ainda não era iluminada com seus belos museus. A torre Eiffel não existia. Tão pouco a Champs-Elysées. Do outro lado do Atlântico, no início do século XIX, Nova York era uma grande e caótica cidade portuária. A Big Apple não tinha seus shows. Não havia o teatro Broadway e a Times Square. Apenas uma cidade horizontal, com favelas abarrotadas, borbulhando de emigrantes escravizados pela chibata de soldos miseráveis. Pó aqui, do lado de biaxo do globo, nosso começo também não era lá grande coisa. Nos primeiros dois séculos de Brasil, éramos o recôncavo da Colônia. Uma vila pobre e abandonada, esquecida pela metrópole. Pensar, então, em São Paulo como capital econômica da América do Sul, isso sim é que era insano. A cidade nada mais era que um grande descampado rodeado por pequenas lavouras de subsistência : uma clareira na mata Atlântica esperando pelos milagres da cana, do café e da indústria. O mais otimista dos bandeirantes jamais imaginaria uma São Paulo capital populacional, política e financeira de todo o hemisfério Sul. O que esperar do amanhã? São Paulo capital de qualquer coisa. Do turismo brasileiro? Será? Desta vez, nada de milagres. Faz dois séculos, um visionário aristocrata, metido a “chef urbanístico”, criou uma receita. Não é tão complicada assim. Como qualquer outra, requer paciência, atenção e disciplina. Primeiro, coloca em uma panela funda bastante investimento em infraestrutura, com vias de circulação ordenadas de maneira lógica. Cozinha até adquirir forma sólida e resistente. Enquanto isso, em uma frigideira aderente, invista em limpeza urbana, azeitando com segurança pública. Adicione algumas pitadas de incentivos a museus, shows, espetáculos, teatros e casas de ópera. Os ingredientes estão todos ai. Misture tudo e deixe agir em fogo brando. A cultura fará o resto. Afinal, Paris não possui as belezas naturais dos Alpes ou da Provence. Nem Nova York , os encantos naturais de Miami Beach. Em momentos quase idênticos, entre 1800 e 1900, ambas empregaram a tal receita, mantida em cozimento até os dias de hoje. O resultado: Paris e Nova York, os dois pólos turísticos do planeta na atualidade. Nossos agradecimentos ao “chef mestre” , Barão Hausmann. Na medida certa, ele soube utilizar o potencial parisiense, temperando-o soberbamente, aguçando ávidos turistas de todas as partes do mundo. "
Isaac Azar, 37, chef, proprietário do restaurante Paris 6 e colunista convidado desta edição da revista Folha de São Paulo
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Mano Chao
domingo, 8 de fevereiro de 2009
"Um penitente chega diante de seu confessor e pede perdão por ter espalhado uma fofoca que ouviu. Ele, coitado, não se deu ao trabalho de verificar a procedência dessa calúnia e nem de procurar a parte atingida.
O padre, após ouvir a confissão do penitente e absolvê-lo, pediu-lhe que subisse em cima do telhado de sua casa e, na extremidade mais alta, despedaçasse um travesseiro de penas. O vento, como era de se esperar, fez com que as penas voassem à distâncias inimagináveis.
No dia seguinte o penitente voltou à igreja carregando o resto do pano do travesseiro. Então, o padre se voltou a ele e disse: agora, quero que você recolha todas as penas que foram levadas pelo vento. O homem, assustado, respondeu que isso era impossível.
E o padre completou, pois é isso. Assim é a calúnia".
O padre, após ouvir a confissão do penitente e absolvê-lo, pediu-lhe que subisse em cima do telhado de sua casa e, na extremidade mais alta, despedaçasse um travesseiro de penas. O vento, como era de se esperar, fez com que as penas voassem à distâncias inimagináveis.
No dia seguinte o penitente voltou à igreja carregando o resto do pano do travesseiro. Então, o padre se voltou a ele e disse: agora, quero que você recolha todas as penas que foram levadas pelo vento. O homem, assustado, respondeu que isso era impossível.
E o padre completou, pois é isso. Assim é a calúnia".
Parábula usada no filme "A dúvida" estrelado pela incrível Meryl Streep
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